
Erros que Custam Caro - O Papel do Assessor. "Aquele que tem ouvidos, ouça o que dizem as Escrituras."
Introdução
"Aquele que tem ouvidos, ouça o que dizem as Escrituras." Esta citação sublinha a importância de uma escuta atenta e de um discernimento acurado, características indispensáveis para qualquer profissional que aspire a alcançar a excelência. No âmbito da assessoria, estas qualidades revelam-se particularmente cruciais. O papel do assessor não se restringe à simples recolha de informações, mas estende-se à sua correta interpretação e ao aconselhamento rigoroso, assegurando que as decisões dos seus superiores sejam fundamentadas e estratégicas. Tal como nas Escrituras, onde a interpretação correta das palavras pode alterar o curso dos acontecimentos, o assessor deve estar atento às subtilezas e ser capaz de prever as implicações das suas recomendações para o futuro da organização.
Contudo, a falta de atenção ao detalhe ou uma interpretação errada podem resultar em erros com consequências graves, tanto a nível financeiro como reputacional. Um único erro de aconselhamento pode desencadear decisões que comprometam projetos inteiros, com repercussões negativas para a organização e todos os seus intervenientes. A responsabilidade do assessor é, assim, de extrema importância, exigindo uma vigilância constante e uma compreensão profunda das matérias em análise, pois os erros cometidos podem ter um impacto irreversível e, frequentemente, dispendioso.
Análise do Impacto da Assessoria no Contexto Histórico e Atual
O impacto negativo dum mau assessoramento num governo ou numa empresa pode ser profundamente prejudicial, conduzindo a péssimas tomadas de decisões e a uma ineficiência administrativa significativa. Quando os assessores não possuem o conhecimento adequado, ou falham em fornecer análises e conselhos de qualidade, as consequências podem ser graves, tanto em termos de políticas públicas mal formuladas quanto na execução ineficaz dessas políticas. Isto é verdade em todos os níveis de governo, quer nas estruturas centrais, quer nas estruturas locais supra (províncias) e infra (municípios), onde péssimos assessores resultam em péssimas tomadas de decisões e péssima eficiência administrativa. Esses cargos, portanto, não podem ser utilizados para acomodar interesses políticos ou pessoais; são posições que exigem trabalho de alto nível e conhecimento especializado.
Exemplos históricos ilustram bem as consequências desastrosas dum mau assessoramento. Um dos casos mais notórios foi o da crise financeira de 2008, onde assessores económicos e reguladores falharam em prever e mitigar os riscos associados à especulação imobiliária e à falta de regulação dos mercados financeiros. O colapso do banco Lehman Brothers, por exemplo, foi precipitado em grande parte pela falta duma assessoria eficaz, que poderia ter orientado os líderes sobre os riscos crescentes. A crise subsequente levou a uma recessão global, mostrando como um mau assessoramento pode ter repercussões devastadoras para a economia mundial (Stiglitz, 2010).
Outro exemplo significativo foi a decisão do governo grego de maquilhar as suas contas públicas, sob o conselho de assessores financeiros externos, principalmente de grandes bancos de investimento. Esta má prática levou à crise da dívida soberana na Grécia, que não só abalou a economia grega, mas também teve um impacto devastador na zona euro, exigindo pacotes de resgate severos e levando a uma austeridade que teve profundas consequências sociais e económicas (Varoufakis, 2017).
No contexto da execução de políticas públicas, a Guerra do Vietname é frequentemente citada como um exemplo de como um mau assessoramento pode conduzir a decisões desastrosas. Os assessores militares e políticos dos Estados Unidos, ao não compreenderem a complexidade cultural e política do Vietname, aconselharam uma escalada militar que resultou num conflito prolongado e desastroso, com enormes perdas humanas e um fracasso estratégico para os Estados Unidos (McNamara, 1995).
Segundo Lipset (1960), "a eficácia de um governo é diretamente proporcional à qualidade do seu quadro de assessores e consultores". Esta afirmação sublinha a ideia de que, sem assessores competentes, o governo fica vulnerável a erros estratégicos que podem comprometer a sua capacidade de governar de forma eficaz. Um assessor mal preparado pode fornecer informações erradas, interpretações equivocadas de dados, ou mesmo subestimar problemas críticos, levando a decisões que não resolvem os problemas ou, pior ainda, os agravam.
Mintzberg (1993) também aborda a questão ao afirmar que "uma má assessoria pode resultar em decisões que são desconectadas da realidade, sem consideração adequada para as complexidades e nuances dos problemas que o governo enfrenta". Isso pode levar a políticas públicas mal direcionadas, que não atendem às necessidades reais da população e que, em última instância, deterioram a confiança pública nas instituições.
Além disso, Drucker (1999) argumenta que "a eficiência administrativa depende não apenas da execução das políticas, mas também da qualidade das decisões estratégicas que orientam essa execução". Quando os assessores falham em fornecer uma análise sólida e fundamentada, a administração pública tende a operar de maneira ineficiente, desperdiçando recursos e tempo, e não alcançando os objetivos desejados.
As consequências de um mau assessoramento são ainda amplificadas em contextos de crise, onde decisões rápidas e precisas são necessárias. Como exemplificado por Foucault (1994), "em tempos de crise, a qualidade das decisões políticas é testada ao máximo, e uma assessoria inadequada pode levar a respostas desastrosas que exacerbam os problemas em vez de resolvê-los". Em situações como essas, a falta de expertise dos assessores pode resultar numa administração pública caótica, incapaz de responder adequadamente às necessidades emergenciais.
Finalmente, Sennett (2006) observa que "o impacto social e ético de decisões mal informadas pode ser devastador, pois os cidadãos esperam que os seus líderes tomem decisões que protejam e promovam o bem-estar comum". Quando as decisões são mal assessoradas, não só a eficácia administrativa é comprometida, mas também a legitimidade moral do governo é questionada, levando a uma perda de confiança e apoio público.
A título de resumo, o papel do assessor é crucial para garantir que as decisões governamentais sejam bem fundamentadas e que a administração pública opere de maneira eficiente. Quando esse papel é mal desempenhado, as consequências podem ser catastróficas para a governança e para a confiança pública nas instituições. Os cargos de assessoria, portanto, não podem ser utilizados para acomodar interesses ou favores políticos; são posições que exigem trabalho de alto nível e conhecimento especializado, essenciais para o bom funcionamento do governo ou da empresa em todas as suas esferas.
"A qualidade do assessoramento pode determinar o sucesso ou o fracasso de uma administração, pois decisões mal informadas podem comprometer a eficácia e a credibilidade de um governo ou de uma organização."
"Quando os interesses políticos prevalecem sobre a competência na escolha de assessores, o resultado é uma administração ineficaz, onde as decisões são frequentemente baseadas em análises superficiais e mal fundamentadas."
"O impacto de um mau assessoramento é amplificado em tempos de crise, onde a falta de orientação adequada pode transformar problemas administráveis em desastres de grandes proporções."
Conclusão
A título de resumo, o papel do assessor é crucial para garantir que as decisões governamentais sejam bem fundamentadas e que a administração pública opere de maneira eficiente. Quando esse papel é mal desempenhado, as consequências podem ser catastróficas para a governança e para a confiança pública nas instituições. Os cargos de assessoria, portanto, não podem ser utilizados para acomodar interesses ou favores políticos; são posições que exigem trabalho de alto nível e conhecimento especializado, essenciais para o bom funcionamento do governo ou da empresa em todas as suas esferas. Aquele que tem ouvidos, ouça o que dizem as Escrituras.
Referências
Drucker, P. F. (1999). Management Challenges for the 21st Century. New York: HarperBusiness.
Foucault, M. (1994). Power/Knowledge: Selected Interviews and Other Writings 1972–1977. New York: Pantheon Books.
Lipset, S. M. (1960). Political Man: The Social Bases of Politics. Garden City, NY: Doubleday.
McNamara, R. S. (1995). In Retrospect: The Tragedy and Lessons of Vietnam. New York: Times Books.
Mintzberg, H. (1993). Structure in Fives: Designing Effective Organizations. Englewood Cliffs, NJ: Prentice-Hall.
Sennett, R. (2006). The Culture of the New Capitalism. New Haven: Yale University Press.
Stiglitz, J. E. (2010). Freefall: America, Free Markets, and the Sinking of the World Economy. New York: W. W. Norton & Company.
Varoufakis, Y. (2017). Adults in the Room: My Battle with Europe's Deep Establishment. London: Bodley Head.